sexta-feira, 18 de abril de 2014

Porque eu respeito a Cruz de Malta! - escrito por um botafoguense


Caríssimos alvinegros e cruz-maltinos,

Dedico esse texto aos meus amigos: Sr. Milton e toda família Campos, Diego Machado, Jelrilly, Wagão e Thiago Miranda.

Em geral, quando o assunto é esporte, cada um defende sua equipe, valoriza apenas seus próprios símbolos acentuando-se o antagonismo entre equipes rivais.

Dentro do futebol carioca, por exemplo, cada clássico possui um nome, uma definição que o caracteriza. Acredito que todos conheçam o antagonismo entre as sílabas iniciais de Fla x Flu, ou o Clássico das Multidões (Vasco x Flamengo), o Clássico Vovô: (Fluminense x Botafogo, o mais antigo do Rio de Janeiro disputado desde 1904) e o Clássico da Rivalidade (Botafogo x Flamengo).

Entretanto, você sabe qual a definição de Botafogo x Vasco? Clássico da Amizade!

Se ampliarmos o tema discutido para além do processo de rivalidade esportiva, podemos encontrar as raízes históricas que embasaram uma relação inabalável entre a Estrela Solitária e a Cruz de Malta.

Acredito que em meados da década de 1960  o antagonismo ao Flamengo uniu os torcedores dos times da Colina e General Severiano, quebrando qualquer barreira geográfica entre Zonas Norte e Sul do Rio de Janeiro, entre Botafogo e São Cristovão.

Não podemos negligenciar o exílio do Botafogo em Marechal Hermes, também na Zona Norte carioca, durante as péssimas administrações que levaram o glorioso a perder sua sede em General Severiano. Acredito, entretanto,  que essa amizade tenha tomado forma mais acabada contra a supremacia do Flamengo no fim dos anos 70 e 80 e o favorecimento da mídia aos rubro-negros (só agora denunciado abertamente). A afinidade já existia antes, mas ficou ainda maior depois dessa ascensão do Urubu que uniu ainda mais os torcedores dos dois times.

Cito abaixo trechos recolhidos pelo Jornal o Lance em busca do início dessa parceria entre os dois times:

COM A PALAVRA
Roberto Porto
Historiador e torcedor do Botafogo

Lados odeiam com todas as forças o Fla
Os torcidas têm um grande ponto em comum: elas odeiam muito o Flamengo. Para o Vasco, o Flamengo é o maior rival. Para o Botafogo, o Flamengo é insuportável. Então cria-se uma solidariedade entre as duas torcidas contra o mesmo rival.
Na década de 60, eu estava no Maracanã e 30 torcedores do Vasco, todos de camisa, entrarem na arquibancada do Botafogo. Achei que teria pancadaria, mas ali ocorrer uma das maiores confraternizações entre torcidas que já vi.

COM A PALAVRA
Sérgio  Cabral
Historiador e torcedor do Vasco

Uma amizade de verdade, de coração
Não dá para tentar explicar essa amizade, mas ela é verdadeira, de coração. Sei que existe um armistício entre as duas torcidas e isso só beneficia quem vai ao estádio. Não me lembro de briga contra o Botafogo.
A união entre Botafogo e Vasco é um exemplo para todas as torcidas. E as próprias torcidas de Botafogo e Vasco deveriam ser assim com todas as outras. Futebol é para torcer, não para brigar por aí. Que a tradição de paz continue por muitos e muitos anos!

UNIÃO DE ORGANIZADAS APÓS HISTÓRIA ENTRE IRMÃOS

Vasco e Botafogo também têm união entre as torcidas organizadas. E tudo começou com a história entre dois irmãos. Em meados dos anos 80, Robson, cruz-maltino e integrante de uma das organizadas do Vasco, se envolveu em uma confusão em um clássico com o Flamengo. Roberto, seu irmão botafoguense, quis defendê-lo e se mobilizou para que, no jogo seguinte - também entre Vasco e Flamengo - houvesse uma espécie de revide aos flamenguistas.
A partir daí, as organizadas se uniram com o passar do tempo e o ato se tornou oficial no início da década de 90. Desde então, é comum se ver no estádios em dia de clássico, inclusive, bandeiras vascaínas sendo balançadas por botafoguenses e vice-versa.

NÃO HÁ BRIGA ENTRE AS TORCIDAS

A promessa de estádio cheio amanhã é um dos indícios da amizade entre as torcidas. Segundo o Tenente Coronel Fiorentini, comandante do Grupamento Especial de Policiamento em Estádios (Gepe), o baixo índice de brigas nos confrontos entre os dois clubes fará com que mais pessoas se encaminhem para acompanhar a final.
– O fato de os clássicos entre Botafogo e Vasco não terem um histórico de brigas, faz com que as pessoas se sintam mais à vontade de ir ao estádio. Talvez, por isso, a procura por ingressos esteja grande – disse o comandante, avisando que a Polícia Militar está preparada para receber um clássico com milhares de torcedores:
– O esquema de segurança será o mesmo dos outros clássicos. Até porque, pode não haver briga entre as torcidas envolvidas na partida, mas pelo grande procura, pode haver problemas com os torcedores que não conseguirem ingressos.


Uma breve história do Vasco e os motivos para admirá-lo

São Januário - fachada histórica
E realmente o Vasco é um time que eu aprendi a respeitar e valorizar pela história e moral que tem.

  • Dos quatro grandes foi o único que começou debaixo, da terceira divisão, e galgou seu espaço até a elite do futebol carioca quando se sagrou campeão em 1923.
  •  Deu o pontapé inicial para a profissionalização do futebol, quando comerciantes portugueses mantinham funcionários empregados em suas mercearias só que, na prática, eles passavam integralmente o tempo treinando pelo Vasco.
  • Foi o primeiro time a aceitar mulatos e negros em seu clube.
  • O Vasco seria o verdadeiro time popular, surgiu na Zona Norte do Rio, enquanto os outros três tem sua origem na Zona Sul.
  • Após a criação da AMEA (Associação Metropolitana dos Esportes Atléticos) tentaram excluí-lo da liga por não possuir estádio próprio. Foi através dessa atitude mesquinha que uma das mais comoventes mobilizações do esporte teve início e, entre a própria comunidade portuguesa, conseguiram arrecadar dinheiro suficiente para construir aquele que ainda é estádio particular do Rio de Janeiro (São Januário foi o maior estádio do Brasil até a construção do Pacaembu em 1940).
Contrariando João Saldanha, autor da frase: “eu o quero para jogar no meu time, não para casar com a minha filha”, enaltecendo que jogador de futebol precisava de talento, não de caráter, os ídolos de Botafogo e Vasco são exemplo dentro e fora do campo. Afinal, o que dizer de Juninho que voltou ao gigante da colina jogando de graça?


O que dizer de Loco Abreu que mesmo jogando pelo Figueirense, diante da torcida do Flamengo, levantou a camisa do figueira mostrando que, debaixo dela, possuía um escudo do Botafogo costurado e o beijou.


Ao contrário dos jogadores do Flamengo que parecem predestinados a aparecer mais nas páginas policiais do que nas esportivas envolvidos com  tráfico, violência contra mulheres,  roubo e até assassinato:









 Caríssimos Cruz-maltinos, jogamos contra comissão de árbitros, Globo, CBF e o crime. Sofremos, mas lutaremos de forma honrada até o final. Mesmo quando caímos tivemos a dignidade de voltar com nossas próprias pernas, ao contrário dos tricoletes que sempre aplicam seus golpes jurídicos. 

Que esta amizade entre a Cruz de Malta e a Estrela Solitária seja eterna!

Onde mais daria pra ver uma mensagem como essa?
Igor Guedes de Carvalho


2 comentários:

  1. Isso é esporte de verdade! Ganha quem é melhor! Quem tem mais time! Quem Joga melhor! Quem não acha que ganhar roubado é melhor!

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  2. Obrigado Antonio, são exemplos assim que me fazem permanecer no universo do futebol!

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